quarta-feira, 1 de julho de 2009


Enamorados

( Águida Hettwer )


O amor chega sem aviso prévio, senta-se na sala de estar da alma, deita sonhos em almofadas de cetim, seduz o tempo e o espaço, aproxima-se sem cerimônias, o beijo atravessa a rua da infância, brinca de esconde-esconde, e descobre que um novo horizonte descortina logo ali.Na brevidade de um verso, o soluçar das lembranças, no derramar das lágrimas cultiva o sal do tempero para a vida. Em caligrafia emendada no tempo de convivência, amontoando cenas, de lençóis desarrumados e confissões em silêncio. Abrindo gavetas, retirando o lenço, envolvidos pelo sentimento.Os enamorados, não barganham descontos e nem economizam nos elogios, erram de propósito o caminho, para descobrir novas paisagens juntos. Assoviam para a vida com alegria, cantarolando poesia, mesmo sem ritmo. Fazem planos, pintam estrelas de fulgurante luz, em noite sombria.Quem ama, desliza os anseios em corredor de emoções, vê graça na piada mal contada, ofusca defeitos, conta segredos, como se abrisse o coração para um íntimo amigo. Lê jornal de trás para frente, conferindo o que diz o horóscopo de hoje. Partilha do melhor pedaço do morango, conta dias, meses e anos. Celebra cada gesto, com festa de arromba.Quando a vida permeia em estado de graça, o amor alonga-se na extensão das raízes da alma, disputa afagos, adivinha-se o final do filme, no roteiro do olhar. Retira o pó dos livros, folheando sonhos, cumprimentam-se os dias, sem medo da resposta. A memória armazena o essencial, para lembrar na eternidade.No amor a letra ilegível é decifrada, feito poesia de bolso, sublinhando emoções, excelso conteúdo, pequeno na sua perfeição.

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